A vida a -50 graus em Oymyakon, a cidade mais fria do mundo

Enquanto muitos brasileiros derretem com as altas temperaturas do verão tropical —na última semana de dezembro, os termômetros do Rio de Janeiro bateram 42,3 ºC —, e os espanhóis congelam com a onda de frio que percorre nesses dias a Europa, há outros locais do mundo que se gabam de ter o gélido título de ser o lugar habitado mais frio do mundo. Nessa classificação Oymyakon, uma remota cidadezinha de 920 habitantes no leste da Sibéria, ficou em primeiro lugar e exibe para isso sua temperatura habitual de -50 °C no inverno. Os responsáveis pelo site oficial de turismo, oymyakon.ru, contaram como é viver em um lugar onde o frio congela as lágrimas, a barba, os cílios e tudo que não estiver coberto.

O frio tem outros inconvenientes, alguns bastante irônicos. Por exemplo, os canos se congelam, assim os serviços estão em pequenas cabanas de madeira ao ar livre, com latrinas cavadas na neve. O meteorologista da TVE Mario Picazo fez uma reportagem lá e contou que até o papel higiênico está congelado. Na oficina de turismo dizem que esse é o costume mais surpreendente para os visitantes.

O chão está tão congelado que não é possível cavar sepulturas. Se alguém morre, primeiro devem fazer fogueiras para derreter o gelo antes de enfiar a pá e a picareta, como é mostrado nesta reportagem.

agrandeartedeserfeliz.com - A vida a -50 graus em Oymyakon, a cidade mais fria do mundo

A 60 graus negativo não é possível respirar a não ser cobrindo seu rosto. “A -50º é quase impossível correr”, contava um morador no vídeo. De acordo com o relato, seu cachorro lambeu um barril de água e ficou com a língua presa. Uma jovem recém-chegada à cidade aprendeu a lição número um ao ser mãe: certificar-se de que as crianças não toquem nem chupem nada metálico para não acontecer a mesma coisa.

Segundo The Weather Channel, em 1924 a cidade atingiu o recorde de 71,2 graus abaixo zero. Em outubro os termômetros começam a marcar entre -15 e -20 graus e o inverno dura cinco meses com apenas cinco ou seis horas de luz por dia. Em maio, o calor vai chegando e, em julho, o mês mais quente, podem chegar a 34 °C.

agrandeartedeserfeliz.com - A vida a -50 graus em Oymyakon, a cidade mais fria do mundo

“Normalmente no inverno faz -50 ºC. Quando faz entre -45º e -40º é quase quente. Entre -58º e -64º há geadas extremas”, explica Max, do escritório de turismo. Quando faz muito frio não se pode praticar esportes na rua, mas bem protegido é possível estar ao ar livre e andar pela floresta, onde costumam ir caçar ou cortar lenha.

Os carros não só não dormem fora de casa, mas têm garagens aquecidas. “Os motores não arrancam a -20 °C e -50 °C, ficam como um bloco de gelo”, nos contam.

agrandeartedeserfeliz.com - A vida a -50 graus em Oymyakon, a cidade mais fria do mundo

Os aviões não voam para esta área no inverno, quando são registrados -60 °C. Este ano, foram cancelados todos os voos até a primavera e as mercadorias chegam somente pela estrada federal Kolyma. A cidade grande mais próxima, Yakutsk, está a 929 quilômetros de distância, mas no distrito de Oymyakonsky existem cinco outras cidades e no total há cerca de 5.000 habitantes.

“Temos tudo. Academia, café, clubes, bibliotecas, museus, lojas, farmácias”. Há também médicos para cuidados primários e pediatria, e se acontecer algo mais grave, transportam o paciente para a cidade. Max, de 30 anos, gosta de passar seu tempo livre na academia, pescando e assistindo a filmes norte-americanos. “Também gosto de viajar de carro ou moto, e nos últimos anos estou muito interessado em turismo, vídeo e fotografia”, conta animado por e-mail. “Há muitas coisas interessantes para fazer aqui”.

A cidade vive em parte da mineração. Recebe dinheiro do Estado para a extração de ouro e tem minas de antimônio, metal raro. A criação de gado e cavalos é outra das atividades econômicas da população. Há também pescadores e caçadores de renas e alces.

A tinta das canetas congela e as baterias duram muito pouco. Os mecanismos das câmeras fotográficas sofrem bastante. Mas segundo nos contam, não é verdade que não tenham celulares, como às vezes é dito. “Temos internet, Wi-Fi e televisão por satélite e todo mundo tem celular. Eles se congelam se levarmos na rua, mas carregamos no bolso”.

O aquecimento é fornecido por uma usina térmica que serve toda a cidade e funciona com carvão as 24 horas do dia. “As casas estão muito bem preparadas para o frio”, diz Max. O que eles não têm é água corrente, porque os canos congelam. “Há em outras cidades vizinhas e podemos ir até lá por água ou lavar o carro, mas no verão lavamos no rio”.

A dieta é essencialmente carnívora, principalmente porque não há planta que cresça no chão gelado e as frutas e legumes são muito caras. Algumas de suas especialidades culinárias incluem carne de veado, de bezerro e potro. O fotógrafo Amos Chapple, que visitou a cidade em 2013 e foi publicado na revista Wired, também menciona o peixe cru e sangue de cavalo na mistura.

Originalmente, a cidade era uma parada de pastores de renas que aproveitavam as águas termais de um manancial que dá nome ao local. A União Soviética, que queria acabar com o nomadismo, obrigou-os a se estabelecerem em 1923. Destas fontes termais vem a água para uso doméstico que levam diariamente para as casas em um caminhão-tanque e também serve para alimentar o sistema de aquecimento. A água potável é obtida raspando o gelo do rio.

As crianças não podem estar fora quando a temperatura cai abaixo de -68 °C. Com -49 °C podem brincar na rua só por 20 minutos. A -58 °C qualquer parte da pele exposta ao frio se congela rapidamente. Um mês por ano as crianças não vão à escola porque a temperatura está abaixo dos -54 °C. As aulas no instituto são suspensas quando faz -58 °C. “Usávamos estes dias para caçar na floresta, mas agora provavelmente fiquem brincando no computador”, responde Max.

agrandeartedeserfeliz.com - A vida a -50 graus em Oymyakon, a cidade mais fria do mundo

O frio extremo tem algumas vantagens, por exemplo as casas não precisam de geladeira. Se você deixar a comida na varanda elas congelam. Mas as roupas molhadas também se transformam em uma camada de gelo em questão de minutos, como é possível ver no vídeo de Sebastian Bladers, um estudante de meteorologia.

Embora esteja muito longe de tudo, chegam à cidade entre 300 e 400 turistas por ano atraídos pelas temperaturas extremas, eles se divertem com corridas de renas, a pesca através do gelo e as águas termais. Também há “um lago sagrado e as montanhas”.

Bladers subiu um vídeo ao YouTube de sua visita a Oymyakon um dia que fazia -56 °C. Não teve nenhum problema para gravar o típico lançamento de água fervendo que se congela no ar. Também se jogou de cueca na neve, mas volta correndo, sofrendo, para dentro da casa.

 



Para todos aqueles que desejam pintar, esculpir, desenhar, escrever o seu próprio caminho para a felicidade.