Por Natasha Romanzoti,
Duas condições de saúde que afetam milhões de mulheres, a endometriose e o mioma uterino, são pouco debatidas e estudadas, apesar de estimativas indicarem que potenciais tratamentos renderiam US$ 2 bilhões para a indústria.
Essas doenças podem causar muita dor e, em alguns casos, levar a infertilidade e procedimentos cirúrgicos.
Felizmente, alguns novos medicamentos estão sendo testados, embora os especialistas acreditem que estes – e outros problemas que atingem exclusivamente o sexo feminino – não recebam a atenção devida.
As condições
De acordo com a Federação Médica Brasileira, mais de 7 milhões de mulheres sofrem com endometriose somente no nosso país.
Essa enfermidade inflamatória crônica afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva (entre 20 e 40 anos) e seu diagnóstico é demorado: aproximadamente 12 anos. Nessa condição, o tecido do útero cresce fora do órgão, levando a cistos, sangramento e cicatrizes.
Já miomas são nódulos que se desenvolvem de células do músculo uterino, o que leva a tumores benignos. Estes tumores crescem dentro e ao redor do útero, podendo causar grandes sangramentos e dor nas mulheres.
Metade das mulheres pode desenvolver um mioma em algum ponto da vida, mas nem todas apresentarão sintomas.
Situação atual
O tratamento da endometriose e de miomas uterinos envolve a alteração dos níveis hormonais no organismo.
Já existem algumas drogas que podem fazer isso, incluindo a leuprolide, sendo que contraceptivos também são usados para esse fim.
No entanto, alguns desses tratamentos vêm com efeitos colaterais importantes, incluindo perda de densidade óssea e ondas de calor.
As condições também podem ser tratadas por cirurgia, mas a esperança dos novos estudos é justamente criar tratamentos menos invasivos e com menos efeitos colaterais.
O que está sendo feito
Algumas empresas estão atualmente em busca de novas terapias para essas condições.
A Allergan está desenvolvendo a Esmya, uma droga para uso em miomas uterinos. Ela funciona modulando a progesterona, um hormônio chave para o útero. É um tipo de droga chamada de “moduladora seletiva de receptor de progesterona”. Bill Meury, diretor comercial da Allergan, disse ao portal Business Insider que espera obter resultados que possam colocar a droga para aprovação comercial em 2018.
A Bayer está testando a Vilaprisan, uma droga que também funciona modulando os níveis de progesterona. Como Esmya, é uma “moduladora seletiva de receptor de progesterona”. Em julho, a companhia iniciou um estudo de três fases para tratar miomas uterinos. O ensaio clínico deverá demorar três anos.
A Myovant está estudando a Relugolix, uma droga que funciona suprimindo o estrogênio em níveis baixos e, em seguida, reintroduzindo o suficiente para que ele não leve à perda de densidade óssea. É um tipo de medicamento chamado de “antagonista do receptor do hormônio liberador de gonadotrofina”. Os ensaios clínicos devem terminar em 2019, mas um teste realizado no Japão já descobriu que a droga não é inferior à leuprolide, um dos tratamentos já disponíveis para miomas uterinos.
A AbbAie, em parceria com a Neurocrine Biosciences, está trabalhando na Elagolix, uma droga que também funciona alterando os níveis hormonais em mulheres com miomas uterinos e endometriose para reduzir a dor associada às condições. Como a Relugolix, a Elagolix é “antagonista do receptor do hormônio liberador de gonadotrofina”. Em setembro do ano passado, a AbbVie submeteu o medicamento para aprovação comercial nos EUA e aguarda resultados.
Muito pela frente
Esses tratamentos, embora sejam idealmente capazes de tratar a endometriose e miomas uterinos com menos efeitos colaterais do que os atuais, não são ainda as melhores soluções.
“Quando as pessoas perceberem a diferença que podemos fazer nas vidas das mulheres, outras [companhias] seguirão”, espera Lynn Seely, CEO da Myovant.
Para chegarmos lá, mais pesquisas básicas sobre doenças relacionadas à saúde das mulheres precisam ser feitas.
Além dessas condições, existem muitas outras que precisam de mais atenção. A Allergan também está trabalhando em tratamentos para ajudar mulheres que sentem dor durante relações sexuais, enquanto a Myovant investe em uma droga para tratar a infertilidade que ainda está em estágios iniciais.
Ainda outras áreas, por exemplo relacionadas à saúde mental da mulher, como a depressão pós-parto, desesperadamente precisam de alguma inovação. [ScienceAlert, Abril, FMB]
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