Por site Estadão | Rita Lisauskas
Ontem eu saí muito cedo de casa e não vi meu filho acordar. Depois, quando voltei, ele estava na escola e ia sair mais tarde do que o habitual, porque segunda é dia de aula de judô. Mesmo cheia de coisas para fazer, fiquei meio que paralisada dentro de casa, como uma barata tonta. Eram quase 7 da noite de um dia comum, eu tenha feito tantas coisas legais no trabalho e na vida, mas não a principal: não tinha dado sequer um beijo de bom dia no meu filho e já era quase hora de desejar boa noite.
Fiquei pensativa porque li uma frase no Facebook: “Preciso trabalhar como se não tivesse filhos e ser mãe como se não trabalhasse fora.” Essa conta não fecha, nunca vai fechar. Temos de ter disponibilidade de entrar no trabalho em horários malucos, estender a jornada para as reuniões ou eventualidades e, ao mesmo tempo precisamos (e queremos!) estar lá quando eles acordam e quando choram. Queremos deixar na escola, fazer a lancheira e poder largar tudo se uma doença infantil ou um braço quebrado ignora a agenda maluca e inflexível que a vida adulta e capitalista nos impõe.
Se engana quem pensa que essa angústia apareceu porque meu filho estava com estranhos enquanto eu trabalhava. Ele acordou com o pai, almoçou com o pai, foi levado à escola pelo avô. O buraco no peito é meu, todo meu, nada tem a ver com falta de parceria na criação ou de companhia. Era eu que queria estar com ele, perguntar se teve pesadelo e desejar que tivesse um bom dia.
Li há uns 2 ou 3 anos uma pesquisa de uma grande empresa de RH que atestava que os jovens de hoje não querem mais trabalhar no mesmo ritmo que seus pais trabalharam quando eles eram crianças. Esses jovens, que estão entrando agora no mercado de trabalho, abrem mão de salários maiores e de promoções para passar mais tempo com a família. Lembrei disso quando conheci dia desses, durante um trabalho, uma designer, a Camila Conti. Ela me disse que as empresas estavam perdendo uma força de trabalho feminina incrível mantendo ambientes de trabalho opressores e machistas que só pioram quando uma mulher fica grávida ou tenta desacelerar depois do nascimento das crianças. Camila era uma dessas mulheres que disseram adeus ao mercado – mas não ao trabalho – em busca de uma vida mais equilibrada ao lado do filho, Jum, 1 ano.
Ela e uma amiga, a pedagoga Ana Laura Castro, 30, criaram um portal de empreendedorismo materno, o Maternativa, que começou em uma página do Facebook e hoje já é um site que agrega 350 empresas de mães empreendedoras. São mulheres como Camila e Ana Laura (que oferece festas infantis e eventos) que não querem mais fazer parte de um mercado que as afasta da criação dos filhos. Antes de a empreendedora ser inscrita no site, as criadoras checam a origem da empresa e do produto. O grupo de mães se ajuda dividindo suas experiências e em reuniões presenciais para discutir o empreendedorismo feminino.
Difícil empreender em algumas profissões que dependem de uma estrutura de uma grande empresa para que o trabalho possa ser realizado. Mas, na hora de consumir, podemos escolher empresas menores, de mães empreendedoras, que decidiram trocar o emprego em uma grande corporação e salários altos por uma vida financeira incerta, mas com mais tempo de qualidade com o filho. Nesse Natal, todo dinheiro que eu for gastar comprando presentes, será gasto com mães empreendedoras. Que tal o desafio?
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