Por Renato Lima
O psicanalista e escritor Flavio Gikovate definiu o amor como: “um sentimento por alguém muito específico, que provoca a sensação de paz, de aconchego e harmonia”.
Psicologicamente, o amor reflete a primeira experiência do ser humano: o prazer absoluto de estar no útero materno. Por isso, Gikovate dizia que “o amor é um remédio para o desamparo do nascimento”.
Para ser amor é preciso que o sentimento seja, necessariamente, interpessoal (verbo transitivo) e, também, seja um prazer negativo, no sentido que ele vem substituir a perda do primeiro prazer (quando saímos do útero perfeito e temos contato com o mundo imperfeito).
Assim, Gikovate – contrariando o senso comum romântico – afirmava que “não se faz amor, sente-se amor”.
Fato é que amor adulto, tem muitas características infantis. O outro entra no lugar da mãe, substituindo o objeto de prazer que receberá todo o investimento de amor.
No século V a.C., Platão afirmava que o amor deriva de admiração. A escolha desse objeto que vai substituir a mãe será feita, então, por admiração. Essa é a explicação para a formação dos casais. A questão é que o critério de admiração pode se modificar com o passar do tempo.
Essa, a admiração, é uma das variáveis que pode levar o fenômeno amoroso ao colapso da relação. Quanto mais baixa for a autoestima, maior a procura pela admiração ao perfil oposto, justificando a máxima “os opostos se atraem”.
O tempo e a aproximação podem provocar a perda, ou mesmo o crescimento, da admiração. É um processo constante de reavaliação da admiração ao outro. Isso depende das escolhas e das mudanças que ocorrem individualmente e, que afetam diretamente o relacionamento.
Em outras palavras, quando se perde admiração, perde-se o amor. Logo, o maior problema é a perda da admiração.
O sentimento amoroso vai se desencantar pelas mesmas razões que o fez encantar. O fim do amor não é, imediatamente, o fim do relacionamento. Muitas pessoas ficam juntas, mesmo depois que a vida emocional está empobrecida.
Viver junto, não significa viver bem. Há os que continuam com um objetivo de forçar a mudança do outro, em vez de usar essa força para mudar a si mesmo. “Por exemplo: em vez de eu forçar o outro a deixar de ser egoísta, eu devo trabalhar em mim para deixar de ser generoso.
Assim, ou a pessoa sai da relação em busca de alguém generoso, ou ela aprender a ser generosa. Toda a energia deveria ser gasta em si mesmo e não em reformar o outro. É um esforço inútil”.
Para Gikovate a parte mais generosa da relação é quem ativa a ruptura. Isso porque a parte mais egoísta, ainda que em um possível sofrimento, não suporta ceder.
Assim, espera-se uma hora oportuna para a separação. Se o relacionamento está desgastado, o outro não está preenchendo bem as expectativas, de maneira que já há a sensação de incompletude presente.
Quando há uma ruptura é preciso fazer uma autocrítica e entender onde e como foram as falhas e as mudanças. Aprender a lidar melhor consigo mesmo. O individualismo é uma coisa ótima e positiva, pois está ajudando as pessoas a dar menos ênfase ao amor infantil, de dependência.
O individualismo atrai relações entre pessoas mais parecidas criando uma nova máxima “os semelhantes se aproximam”. O amor ganha conotação mais adulta, com aconchego intelectual, o que dá um viés mais sofisticado para a relação.
O “Mais Amor” (termo cunhado por Gikovate como uma evolução das relações afetivas) é o que se aproxima da amizade, ou seja, a relação entre duas pessoas é baseada nas afinidades, respeitando a individualidade de cada um, tomando as duas partes como iguais e equilibradas em tudo.
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