Nós, seres humanos, parece que somos apaixonados por ilusões. Sem ilusões é como se a vida fosse um “preto no branco” para muita gente! Só pra você ter uma noção do quanto somos desequilibrados!
Quase todos os dias lembro com alegria da ideia proposta pelo querido Prof. Hermógenes, de que a religião que ele queria fundar era o “desilusionismo”, porque a cada vez que nos desiludimos nos aproximamos mais da nossa verdade, e estando mais próximos da verdade, estaremos mais humanizados, e por consequência, mais divinizados também. Estaremos um passinho mais perto da iluminação! Não é interessante essa ideia?
Venho nesse texto falar sobre ilusões e desilusões sobre o amor. Está preparado para ser confrontado consigo mesmo? Vamos lá…
O que me inspirou a escrever esse texto foram as sábias palavras do filósofo suíço Alain de Botton, extraídas do seu magnífico livro “O curso do amor”. Segue abaixo um trecho no qual ele fala sobre a ilusão de encontrarmos a pessoa “certa” para casarmos!
A visão romântica do casamento enfatiza a importância de encontrar a pessoa “certa”, o que em geral significa alguém sintonizado com nossos interesses e valores. Todavia, não existe uma pessoa assim a longo prazo. Somos por demais variados e peculiares. Não pode haver uma convergência duradoura. O parceiro realmente mais adequado não é aquele que por um milagre compartilha o mesmo gosto, mas o que é capaz de negociar diferenças de gosto com inteligência e elegância.
Em vez de alguma ideia fantástica de complementaridade perfeita, o verdadeiro indicador da pessoa “certa” é a capacidade de tolerar a dessemelhança. A compatibilidade é uma conquista do amor; não pode ser precondição.
Alain de Botton
Amei essa forma que ele falou sobre quem de fato é a pessoa “certa”. É aquela que, com maestria, consegue se adaptar às nossas diferenças, nossas loucuras, nossas manias e vícios etc. Somos seres imperfeitos, inadequados e difíceis de conviver, qualquer um de nós! Por melhor que seja uma pessoa, no dia a dia, sempre haverá ATRITOS no convívio.
Mas você sabia que os atritos são bons? O ruim são os CONFRONTOS. Vou misturar a etimologia com a Física, e você certamente vai gostar do resultado!
A palavra confronto significa literalmente “estar de frente para o outro”, ou de forma mais coloquial “bater de frente com o outro”, ou seja, o casal está discordando um do outro, mas dificilmente um cede para que a paz volte a reinar no convívio. São quase como duas crianças teimosas que nunca “arredam o pé” quando querem ser donas da razão…
Já a palavra atrito vem da Física, e tem a ver com o contato entre duas superfícies, que faz com que um corpo não se movimente com velocidade constante eternamente, ou melhor que isso, faz com que haja uma força que impulsiona o corpo para a frente. Se não fosse pelo atrito não conseguiríamos caminhar ou correr, os carros ficariam patinando no mesmo lugar o tempo todo. Resumindo: O atrito nos empurra para a frente!
Da forma que é na Física, é na vida também. Os atritos com as pessoas que amamos servem para nos aperfeiçoar e olharmos a vida com olhos mais profundos, com novas concepções que foram agregadas a partir dos valores destas pessoas amadas.
Nessa hora eu lembro de uma celebre frase atribuída à querida Santa Teresa de Calcutá. Ela disse uma vez: “Amar quem está distante é muito fácil, difícil é amar o próximo…”. Ou seja, os pais, os irmãos, marido, esposa, filhos, os colegas de trabalho etc.
Precisamos destruir as nossas ideias de perfeição, porque definitivamente ninguém é perfeito. Aliás, existem ditados bem conhecidos por todos que expressam isso: “Perfeito só mesmo Deus” ou “Perfeita é aquela pessoa que já está no caixão”.
Concordo com essas frases, e mais uma vez vou para a etimologia. Perfeito significa “feito por completo, acabado”. Se nós estamos feitos por completo, o que estamos fazendo aqui? Era melhor já ter morrido!
Nesse mesmo livro, o Alain de Botton fala até de forma meio irônica sobre a perfeição. Veja só!
Declarar que o amado é “perfeito” só pode ser um sinal de que não conseguimos entendê-lo. Podemos afirmar que começamos a entender alguém apenas quando essa pessoa nos decepcionou muito.
Alain de Botton
Enxergar perfeição em alguém é como ter uma venda nos olhos, ou lentes que transformam a realidade.
A palavra DECEPÇÃO é outra palavra muito bonita. Não sei se você sabe, mas ela vem do verbo DECEPAR, ou seja, cortar, arrancar fora! Mas arrancar fora o quê? As ILUSÕES.
Perceba! Quando eu me decepciono com a pessoa que eu digo amar, eu estou um passinho mais perto de conhecê-la como de fato ela é, sem tantas sombras! E isso é maravilhoso, é um presente da existência para cada um de nós e talvez você ainda não tenha pensado sob esse ponto de vista.
Decepções e ilusões andam de mãos dadas, e elas, ao contrário do que muita gente pensa, são alicerces para se construir um casamento rico e feliz. Estou embaralhando a sua cabeça? Espero que sim! Essa é a intenção! Desconstruir o que você passou a vida inteira aprendendo nos filmes de Hollywood…
Em resumo. Nós certamente encontraremos a pessoa “certa” eliminando de nós as ideias de perfeição e sendo flexíveis tanto conosco quanto com a pessoa que dizemos amar. Esse é o caminho para ser feliz no casamento! Pense com carinho em tudo isso…