Antes que você, principalmente se for mais jovem, questione que as televisões hoje estão melhores, eu devo te dizer que é verdade. Os aparelhos são uma maravilha! Perfeitos, enormes, ocupam menos espaço e têm uma qualidade que aquelas TVs de tubo da minha época não conseguiriam superar nem em sonho. Mas, quando se fala de poesia na programação, as coisas mudam de figura.
No meu tempo dava gosto de assistir TV. As programações tinha um quê de poesia, além de ser tudo bem determinado. Tinha a coisa da novidade, também. Talvez uma pessoa mais jovem nunca irá saber qual é a sensação de repentinamente, os seus programas prediletos terem cores.
Fantasia e novidade
Era fantasia dentro de um tubo. A família se reunia na sala para assistir a novela e ver um universo fantástico, onde os protagonistas nos enchiam de vontade de ter um pedacinho daquela vida. Eram galãs e musas. O termo “vida de artista” se tornou algo tão glamouroso que todo mundo queria ser quando crescer. Me arrisco a dizer que mais do que hoje em dia.
É difícil imaginar que até os anos 70, querer trabalhar na televisão era considerado coisa de gente que só queria vagabundar. As coisas tinham um “quê” de visionárias e brincavam com o fantasioso, o espetacular.
Quando os primeiros filmes começaram a ser exibidos na TV, era um arrebatamento. Não importava muito se você conhecia o ator, diretor ou mesmo o roteiro. Chamávamos o protagonista de “artista” ou “mocinho” e torcíamos para que ele enfrentasse e derrotasse os bandidos. Morríamos de medos dos filmes de monstros, na mesma proporção que amávamos os casamentos no final das novelas.
Havia programação para as crianças, canais educativos e desenhos animados. Tudo o que os nossos filhos e netos queriam era passar mais um tempo assistindo ao “Chaves”, o “Castelo Rá Tim Bum” ou mesmo “Mickey Mouse”. Era tudo muito mágico e novo.
Programas de calouros tomavam nossa atenção e tudo que hoje fazem Silvio Santos, Rodrigo Faro, Faustão, já foi feito com menos recursos e com mais emoção no passado. Não fosse assim, o “Cassino do Chacrinha” não seria relembrado até os dias de hoje.
Mas, repetindo o que acontece atualmente, nem tudo eram flores. Haviam atrações que não valiam a pena e existiam apenas para captar audiência. O mal gosto não é uma exclusividade da atualidade.
Mais do mesmo
Hoje, tudo é mais do mesmo. As televisões nos enchem de repetições e programações que tentam explorar uma realidade de forma tão exagerada que até parece invenção. Aquele universo fantástico, não existe mais. Os bons sentimentos quase não são retratados e o casal de mocinhos da novela parece não querer mais saber de amor verdadeiro. Nos filmes, ninguém mais tem medo de monstros e os “artistas” são apenas as pessoas que acabam deixando suas vidas expostas nas redes sociais.
Por que não se faz mais televisão como antigamente? Mesmo com um tubo enorme, mesmo que tivéssemos que mexer no seletor para sintonizar o canal, mesmo que a imagem tremelicasse ou chovesse, a família podia assistir a um filme cheio de cenas impressionantes sem medo de ser afrontada ou mesmo entediada com a tentativa de fazer tudo parecer absurdo ou real demais.
Se tem uma coisa que eu fazia no meu tempo e repito até hoje é responder ao “Boa noite!” do rapaz do ao “Jornal Nacional”.