Negligência emocional: o abandono afetivo na infância

Você já ouviu falar sobre o conceito da negligência emocional?

A Organização Mundial de Saúde define os maus-tratos infantis como um conceito muito amplo que compreende os abusos e a desatenção em relação aos menores de 18 anos. Além disso, inclui todos os tipos de maus-tratos físicos e emocionais, abuso sexual, descuido ou negligência ou exploração comercial ou de qualquer outro tipo.

A questão é que estes originem um dano real ou potencial para a saúde da criança, sua sobrevivência, desenvolvimento ou dignidade no contexto de uma relação de responsabilidade, confiança e poder (OMS, 2003)

No nosso caso, vamos focar no campo da negligência ou do descuido da criança. Infelizmente, não é incomum escutarmos no noticiário reportagens de uma ou várias crianças presas em casa e totalmente maltratadas, sujas e desnutridas. É isso precisamente que chamamos de negligência infantil.

Agora, o que exatamente é negligência? Que tipos de negligência que existem? Quais são as consequências que surgem na criança vítima de maus-tratos? Vamos nos aprofundar nessas questões a seguir.

Definição e tipos de negligência infantil

A negligência é definida como a forma de maus-tratos que consiste no fracasso repetido, por parte dos pais ou cuidador da criança, de proporcionar o mínimo básico e necessário de alimentação, vestuário, atenção médica, educação, segurança ou afeto. Ou seja, a satisfação de todas as necessidades básicas tanto físicas quanto emocionais da criança.

Existem dois tipos de negligência infantil que podem ser bastante diferentes:

A negligência física/cognitiva: refere-se a situações em que as necessidades físicas da criança, como alimentação, vestuário e higiene, ou os cuidados médicos, não sao atendidos durante certo tempo ou permanentemente por nenhum adulto que se encarregue do cuidado da criança.

A negligência emocional: refere-se a uma falta temporária ou persistente de respostas do adulto a sinais (como choro ou sorriso), expressões emocionais e comportamentos que buscam proximidade e interação. Pode ser também a falta de iniciativa de interação e contato por parte de uma figura adulta e estável na vida da criança.
A partir de agora, vamos focar nesse último tipo de negligência infantil, a negligência emocional.

Indicadores de negligência emocional infantil

Existem três grandes indicadores de negligência emocional que compreendem os seguintes comportamentos:

Ignorar: acontece quando os pais ignoram as tentativas e necessidades da criança de interagir e não demonstram nenhum sentimento por ela. Por exemplo, são os pais que só interagem com seu filho quando estritamente necessário. Há uma ausência total de expressões de afeto, cuidado e amor em relação à criança.

Impedir a atenção psicológica: os pais rejeitam iniciar o tratamento de algum problema emocional ou de comportamento muito grave de seu filho. Nesses casos, os profissionais competentes demonstram a necessidade de começar um tratamento, e os pais se negam a proporcioná-lo para a criança ou a recebê-lo.

Rejeitar a atenção psicológica: nesse caso não há uma rejeição em relação a um profissional, mas sim o fato de que eles próprios não buscam ou proporcionam a ajuda psicológica necessária. Acontece quando a alteração emocional ou de comportamento é evidente e extrema, como numa tentativa de suicídio.
Menina triste abraçando ursinho de pelúcia

Variáveis que interferem no abandono ou negligência infantil

Diante de comportamentos tão difíceis de imaginar quando estamos falando de relações pais e filhos, é comum que nos perguntemos que tipos de família são mais prováveis de gerar essa negligência. Existem diversos estudos que estão de acordo que as seguintes variáveis estão geralmente presentes nestes casos:

Relações dos pais com idas e vindas. Existem dificuldades de comunicação entre os pais e desequilíbrio no balanço de poder.

Relações conflituosas fora do primeiro núcleo familiar. Por exemplo, não pedem ajuda aos avós quando necessitam que alguém cuide das crianças.

Relações sociais escassas ou até nulas dos cuidadores. Não existe contato com os vizinhos ou amigos e se mostram resistentes na hora de pedir ajuda.

Nenhum adulto assume a responsabilidade das tarefas domésticas e elas costumam ser realizadas por uma das crianças.

Viver em espaços reduzidos em que a segurança e a higiene são deficientes. Na maioria das casas faltam serviços importantes, como a água quente.

Hábitos de criação, atenção e cuidados inadequados do menor. Os pais não têm clareza acerca de quais são as necessidades de seus filhos, a percepção deles é negativa e apenas existe comunicação entre os pais, não havendo dispêndio de tempo com os menores.

Nível educativo dos cuidadores ou progenitores bastante baixo. Os pais apenas cursaram uma parte do ensino e não mostram interesse por seus filhos nesse contexto. A situação profissional dos cuidadores ou progenitores costuma ser instável. Ainda que os pais estejam trabalhando, costumam ser empregos temporários e que não geram nenhum tipo de satisfação.

Antecedentes parentais de desproteção: ao menos algum dos cuidadores foi vítima de situações de abandono durante sua infância. É comum que se mostrem reticentes a falar de sua própria vida enquanto crianças.

Definitivamente, a negligência emocional é um problema muito complexo no qual atuam muito fatores, e deve-se ter em conta as inúmeras consequências possíveis. Isso não quer dizer que, apesar de sua complexidade, não deva ser tratada e atendida. Ao contrário, como já foi observado que as consequências a longo prazo nessas crianças podem ser mais graves que as causadas por maus-tratos físicos, é muitíssimo importante procurar ajuda em qualquer fase da vida.



Para todos aqueles que desejam pintar, esculpir, desenhar, escrever o seu próprio caminho para a felicidade.