Mulheres pagam até R$ 445 por jantar “premium” com nudez obrigatória: ‘Sensação de liberdade’

Enquanto duas dúzias de mulheres tentavam coordenar sua respiração, em grandes haustos sincronizados, estendendo os braços para o alto e se movimentando pela sala, as folhas de papel que encobriam as janelas voltadas para a rua, de vez em quando, caíam. E sempre que isso acontecia, diversas das mulheres corriam para fixá-las de volta.

Era uma providência necessária, afinal, porque todas as presentes a um jantar realizado este mês no Lower East Side de Nova York estavam nuas.

O Füde Dinner Experience é organizado pela artista e modelo Charlie Ann Max. Por US$ 88 (mais de R$ 445 no câmbio atual), e depois de Max verificar as credenciais dos convivas, as participantes se reúnem para, de acordo com o site do evento, desfrutar de “um espaço libertador que celebra o nosso eu mais puro, através da culinária de base vegetal, arte, nudez e amor-próprio”.

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Em outras palavras: é um jantar nudista vegetariano em companhia de um bando de desconhecidas.

Max começou a fazer experiências com eventos nudistas em 2020 (ela também organiza as Füde Breath-Work Experiences, exercícios de respiração em companhia de desconhecidos nus; e as Füde Clay Experiences, oficinas nudistas de escultura em argila). Os jantares inicialmente eram apenas para convidadas, mas ela os abriu a pessoas que tenham ouvido falar do evento através do Instagram ou de amigos. Todos os jantares que ela organizou até agora tiveram sua lotação esgotada, disse Max, e não demorou para que ela começasse a receber um dilúvio de perguntas de aspirantes a jantares nudistas em todo o mundo.

O Füde (o trema é para ajudar as pessoas na pronúncia, “fúd” e não “fíud”, e para honrar a herança judaica alemã de Max) Dinner Experience talvez seja a expansão “au naturel” de uma tendência que está em crescimento.

Uma nova cultura de restaurantes, grupos e páginas de Instagram surgiu para oferecer a outros comensais sociáveis oportunidades de se conhecerem e de conviver com pessoas compatíveis. Só em Nova York, há a Dinner Party, uma mesa comunitária em Brooklyn; Dinner With Friends, uma página de Instagram que organiza jantares “para conhecer novos e velhos amigos!”; e o Friend of a Friend Collective, que organiza jantares para quatro a oito integrantes do grupo.

No entanto, em todos eles usar roupa é obrigatório.

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Os atrativos do jantar coletivo nudista são diferentes para pessoas diferentes, disse Max. Algumas querem se sentir mais ligadas aos seus próprios corpos, enquanto outras querem fazer novos amigos, igualmente desinibidos.

No jantar do início de março, as convidadas se despiram assim que chegaram. Não havia vestiário, apenas um cabideiro e cabides, posicionados de um dos lados da sala. O salão de jantar principal tinha uma iluminação calorosa e estava decorado com lençóis de seda, nas cores creme e champanhe, pendentes do teto. Max disse que gosta que seus eventos pareçam quadros renascentistas porque “é muito romântico”.

Cada uma das participantes (com idades que variavam dos 20 e poucos aos 50 e muitos anos) encarou de maneira diferente o desafio do que vestir em um evento nudista. Algumas optaram por looks de festa completos, enquanto outras chegaram de jeans e camiseta. Depois de se despirem, as convidadas se deslocavam de grupo em grupo, se apresentando e conversando educadamente sobre o clima. Quase todos elas chegaram sozinhas, o que Max disse ser típico.

Rosalina Villanueva, 41, disse que queria restabelecer a ligação com seu corpo, que mudou muito depois de ela dar à luz o seu primeiro filho, no ano passado.

Catherine Fraccaroli, 21, tinha se despido como as regras dispõem, mas ficou de meias, brancas, porque isso era “confortável”. Ela esperava que o jantar a ajudasse a ser mais confiante socialmente. “Eu com certeza costumo ser bem tímida, e por isso uma experiência como essa serve como forma de eu me pressionar para ser mais aberta”, ela disse.

Stephanie Uribe, 35 anos, disse que tinha acabado de passar por cerimônias de cacau, tabaco e “temazcal” na Nicarágua, e que queria “manter aquela energia”.

“Acho que a nudez permite que nos conectemos de uma forma diferente”, ela disse. “Que removamos aquilo que o patriarcado nos impôs, como uma sexualidade exagerada ou intensa.”

Os eventos do Füde não são exclusivamente para mulheres, mas, para que homens possam participar, eles precisam ser encaminhados ao grupo por participantes anteriores. Todos os potenciais convidados têm de preencher um formulário explicando por que estão interessados. O formulário também pergunta sobre quaisquer restrições alimentares e se um candidato já esteve envolvido em “quaisquer incidentes que possam ser considerados inadequados ou desrespeitosos durante um evento nudista ou parcialmente nudista”. Max não tem como verificar se o que as pessoas declaram quanto a essa última questão é verdade.

Ela disse que aceita a maioria dos candidatos, desde que não sejam “aqueles caras repulsivos que de alguma maneira encontram minha conta de Instagram”.

“Basicamente”, ela disse, “só tento determinar se a pessoa é segura, e se as suas intenções ao ingressar em nosso espaço são puras”. “Deve ter sido um panorama e tanto!”

Max criou a conta do Füde no Instagram em 2020 como uma forma de combinar seus dois grandes amores: culinária e nudez. Mas os eventos começaram realmente em 2014, quando certo dia ela e as pessoas com quem dividia um apartamento em Brooklyn decidiram tirar a roupa e ficar em casa. Ela era dançarina, quando mais jovem, e seu relacionamento com seu corpo sempre foi tenso.

“A sensação de ficar daquele jeito com os meus melhores amigos, em minha forma mais crua com o meu corpo, caiu bem demais, e não foi tão assustador ou esquisito quanto eu poderia ter imaginado”, disse Max. “Senti-me muito livre.”

Com a força que isso lhe deu, ela começou a expandir suas experiências nudistas: ir a certos bares com os seios nus, dar festas e receber os convidados nua. Agora, diz, ela fica nua sempre que possível. “É meu estilo de vida online e offline”, ela afirmou. “Durante os eventos, e depois de todos irem para casa.”

O primeiro evento nudista que ela organizou foi uma noite de pintura em Los Angeles. Max preparou a comida e a nudez era opcional, o que a organizadora mais tarde percebeu ter sido um erro. A verdade é que festas nudistas só funcionam se todos os presentes fizerem a mesma coisa: tirar a roupa. Os convidados que não se despiram disseram a ela que isso tinha acontecido apenas porque perceberam que outras pessoas tinham decidido ficar vestidas.

O Füde ainda não é lucrativo, mas Max espera que se torne um negócio de período integral. No momento, ela ganha dinheiro como modelo e criando conteúdo, e divide seu tempo entre Nova York e Los Angeles. Ela também completou recentemente um programa de culinária baseada em plantas no Institute of Culinary Education de Los Angeles.

Cada jantar Füde Experience tem um tema, por exemplo “amor próprio” ou “musa/museu”. Quando os eventos acontecem em Los Angeles, Max cozinha e organiza os jantares em seu loft. Quando viaja, ela prepara as refeições onde quer que possa – no apartamento onde estiver hospedada, ou na casa de um amigo.

Para o mais recente jantar em Nova York, o tema foi “abrace seus ritmos pessoais: como mulheres podem se conectar aos seus ciclos menstruais”. Depois de uma hora de exercícios de movimento e respiração, as mulheres se acomodaram em torno de uma mesa de jantar coberta de seda, flores secas e copos de água em forma de traseiros, e discutiram menstruação.

Max e a sua assistente, Maya, serviram pratos de cenoura e sopa de gengibre, pimentão com recheio de quinoa, e mousse de framboesa, avocado e cacau. A temperatura da calefação estava alta, e as mulheres periodicamente se abanavam com seus cardápios. Apenas uma participante estava menstruada durante o evento, o que todas concordaram ser bastante notável.

Guiadas por Chelsea Leyland, 35 – fundadora da Looni, uma empresa de saúde menstrual, que colaborou com Max na organização do jantar – as mulheres foram convidadas a revelar uma palavra que resumisse sua relação com seus períodos. Houve histórias sobre primeiras menstruações embaraçosas, desastres envolvendo jeans brancos, sexo durante a menstruação e problemas com condições crônicas como a endometriose.

“Sinto muito nervosismo quando fico menstruada, porque tendo a sangrar muito, e isso fica aparente em minhas roupas”, disse uma das mulheres.

Duas mulheres discutiram pintar com os dedos usando sangue menstrual como tinta, e algumas outras disseram que gostariam de experimentar isso. Uma mulher expressou frustração por o seu ciclo não estar sincronizado com a lua.

No meio das reflexões de uma das convidadas sobre o estigma da menstruação, alguém exclamou “oh, um homem!”, e diversas das mulheres saltaram para reposicionar o lençol e pedir que o transeunte que estava olhando pela janela fosse embora. “Deve ter sido um panorama e tanto”, disse Leyland.

Quando o jantar terminou, as mulheres ficaram para conversar mais um pouco. Algumas se vestiram, outras andavam pelo local nuas. Elas trocaram abraços, números de telefone e contatos de mídia social. Uma das convivas sugeriu que todas corressem para a rua nuas, mas as mulheres presentes concordaram em que aquilo provavelmente era ilegal.

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Fonte: F5

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Gabriel tem 24 anos, mora em Belo Horizonte e trabalha com redação desde 2017. De lá pra cá, já escreveu em blogs de astronomia, mídia positiva, direito, viagens, animais e até moda, com mais de 10 mil textos assinados até aqui.