Bruna de Paula, uma jovem paulista de 24 anos, ficou surpresa ao receber a aprovação com bolsas integrais para cursar um doutorado nos Estados Unidos. Ela comenta que não acreditava ser possível, já que não possui um grande currículo acadêmico, não fez mestrado, não estudou em uma universidade federal e não teve notas excelentes na faculdade.
Apesar dessas limitações, Bruna foi aprovada para cursar o PhD em ciência política em quatro universidades americanas, sendo elas: Universidade do Missouri, Universidade Temple, Universidade do Sul da Flórida e Universidade do Tennessee. Ela ainda aguarda o resultado de outras instituições de ensino superior.
Bruna fez o curso gratuito e online Prep Pós-Graduação, oferecido pela Fundação Estudar para jovens que desejam fazer pós-graduação em outro país, mas não sabem por onde começar.
Ela cursou comércio exterior em Itajaí, Santa Catarina, com uma bolsa integral do Prouni, mas enfrentou dificuldades financeiras para se sustentar enquanto trabalhava em tempo integral e frequentava a faculdade à noite.
Após a conclusão da graduação, Bruna enfrentou desemprego e, sem recursos para pagar um curso preparatório para concursos públicos, optou por pesquisar outras opções para estudar fora. Ela considerou um mestrado, mas concluiu que seria mais difícil conseguir boas bolsas, e acabou optando pelo doutorado, que oferecia melhores oportunidades de financiamento.
Algumas universidades preferem alunos que saem direto da graduação para o doutorado, pois muitos estudantes que fazem mestrado não seguem para o PhD e isso dificulta a obtenção de financiamento para o mestrado.
Bruna, que cursou comércio exterior em Itajaí com bolsa integral do Prouni, descobriu essa informação através de professores. Ela enfrentou dúvidas e momentos de insegurança, mas decidiu tentar fazer um doutorado nos Estados Unidos, mesmo achando que era um sonho muito grande para alguém como ela.
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Os processos de candidatura
Bruna encontrou dificuldades financeiras para se preparar para o processo de candidatura para universidades e encontrou ajuda no curso gratuito Prep Pós, que a auxiliou em todas as etapas, incluindo a busca por universidades com bolsas e a elaboração de documentos.
A partir das orientações do curso, ela selecionou algumas escolas e entrou em contato com professores cujas pesquisas se alinhavam com seu projeto.
Apesar do nervosismo e de ter um inglês limitado, Bruna participou de reuniões online com os professores das universidades. Durante as reuniões, eles perguntaram sobre suas habilidades e motivações para buscar um PhD e, como ela quer seguir a carreira acadêmica, os entrevistadores entenderam que o doutorado seria mais indicado.
“Saiba por que você quer ir para aquela universidade, por que quer trabalhar com aquele professor, leia artigos dele. É importante ter isso bem claro”, aconselhou ela. “As reuniões não são necessariamente obrigatórias, mas podem ser importantes tanto para a universidade conhecer o aluno quanto para o aluno conhecer a universidade”.
Estudar para admissão em programas de pós-graduação nos EUA exigiu que Bruna se preparasse para os testes TOEFL e GRE, que são mais complexos do que uma simples entrevista. Ela usou materiais gratuitos da mentoria para se preparar.
“O Prep Pós também foi fundamental para eu explicar para os recomendantes o que uma carta de recomendação deve ter, já que eu pedi para dois professores universitários que nunca tinham feito isso”, diz.
O módulo de autoconhecimento, apesar de parecer dispensável à primeira vista, foi fundamental para que Bruna pudesse escrever uma excelente carta de motivação, um dos documentos mais importantes do processo de candidatura – inclusive, seu texto foi bastante elogiado pelos professores.
Ao longo de seis meses, entre junho e dezembro de 2022, Bruna se inscreveu em 17 programas de doutorado nos Estados Unidos. Como o PhD é altamente competitivo e oferece bolsas integrais para os aprovados, ela decidiu usar a estratégia de se candidatar para o maior número possível de programas.
O primeiro “sim” recebido foi da Universidade do Missouri, nos EUA. “Só vou ter que pagar algumas taxas semestrais, o que dá mais ou menos 200 dólares. A bolsa inclui a mensalidade do PhD por cinco anos, plano de saúde, a taxa para alunos estrangeiros e mais 20 mil dólares por ano”, explicou.
Além da bolsa e da excelência da instituição, Bruna conta que se sentiu muito acolhida pela universidade, que já designou um aluno brasileiro para ajudá-la com questões mais práticas.
“É uma mudança muito grande, vou ficar longe da minha família e me mudar para um país totalmente desconhecido, com uma língua diferente. Eu nunca saí do Brasil, então ter esse amparo é muito importante”, diz. Ela ainda não bateu o martelo, mas admite que é muito possível que o Missouri seja seu lar pelo menos pelos próximos cinco anos.
Agora, enquanto se prepara para deixar o Brasil no meio do ano, Bruna reflete sobre as dificuldades enfrentadas no processo: “Eu costumava conversar muito com minha mentora do Prep sobre como achava que minhas chances eram muito baixas porque eu não tinha frequentado uma universidade federal. Não tenho nenhum artigo publicado e minha média na faculdade foi 7. Isso me deixava muito insegura”.
Apesar disso, ela foi encorajada pela mentora, pela família e pelos amigos que acreditavam em seu potencial. “Posso não ter uma federal, mas tenho uma bolsa do Prouni, faço um trabalho voluntário em uma revista independente para jovens, tenho cartas de recomendação muito boas, trabalhei durante toda a faculdade. Apostei em mim”, ela diz.
“Não foi fácil, teve muito esforço por trás. Eu estudei muito, me dediquei muito para conseguir. Mas se é possível para mim, também é para outras pessoas”, finaliza a futura PhD.
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Fonte: Catraca