Por Jornal Cidade| Rodrigo Tavares Mendonça
Apesar de vivermos em uma época na qual os direitos humanos são alvos constantes de ataques, o que mostra que uma parcela da sociedade considera que algumas pessoas merecem ser tratadas com menos humanidade do que outras, o adjetivo “humano” ainda sobrevive como qualidade positiva de quem o manifesta. Felizmente, ainda dizemos “ele se preocupa muito com os outros, é muito humano”.
Ser humano, em resumo, é ser empático. A empatia define nossa humanidade. Costuma-se dizer que empatia é se colocar no lugar do outro. Mas não é só isso. Empatia é se colocar no lugar do outro e ver a vida com os olhos dele. Não raro nos colocamos no lugar do outro e dizemos “se eu fosse você faria isso ou aquilo” ou “você não precisa se sentir desse jeito, você tem isso ou aquilo”. Isso não é ser empático. Na verdade, é o exato oposto, é negar as diferenças que nos fazem ter olhares diferentes sobre a vida.
Ser empático, então, é pensar como o outro irá pensar, sentir como o outro irá sentir. É preocupar-se com ele e nunca negar a legitimidade dos seus pensamentos e sentimentos. A orientação para a mudança deve partir da identificação das suas potencialidades e do reconhecimento da forma como o outro experiência sua vida. Em outras palavras, é dizer “entendo como você pensa e sente dessa forma, por isso não consegue enxergar outras opções” ou “você tem todo o direito de se sentir assim, estou aqui para mostrar que você não está sozinho”.
A internet, contudo, especialmente as redes sociais, está facilitando a destruição do nosso comportamento empático. Grande parte das interações sociais atuais acontecem nas redes sociais, o que nos leva à seguinte conclusão: grande parte das interações sociais atuais carecem enormemente de empatia. Na internet, as pessoas não pensam duas vezes ao ofender o outro ou fazer julgamentos pesados sobre seu caráter ou personalidade de forma geral. Chamar o outro de “lixo” ou “merda”, por exemplo, tornou-se tão comum quanto dizer qualquer outra coisa sobre o outro.
O computador ou celular são poderosos intermediadores das relações humanas. O observador vê em sua frente apenas imagens e textos, não uma pessoa real. Em outros termos, a intermediação virtual das relações humanas as tornam menos humanas, pois a distância e a falta de contato físico e verbal dificultam o surgimento da empatia, ou seja, da capacidade de pensar e sentir o que o outro está pensando ou sentindo. Na frente dos intermediadores virtuais, não nos preocupamos com os pensamentos ou sentimentos do outro. E a falta de feedback sobre isso cria um círculo vicioso: não sabemos sobre os efeitos (positivos ou negativos) das nossas palavras.
Outro fator negativo que envolve as redes sociais é a falta de compromisso com o que se fala. As palavras soltas na rede aparentemente não causam dano a ninguém e a pessoa que diz não é responsabilizada por seu ato. Podemos dizer, por exemplo, que tal pessoa é ladra sem necessidade de provar ou apontar indícios e não existe a menor possibilidade de ser punido em caso de inverdade. A internet é a terra da total impunidade e irresponsabilidade.
A meu ver, não à toa a depressão é a doença do século XXI. Um dos sentimentos mais característicos das síndromes depressivas é o de solidão. A pessoa depressiva sente-se solitária mesmo na companhia de outras pessoas e em contato com inúmeras outras pelas redes sociais. Parte da causa e da cura da depressão é a empatia. Ser empático e receber empatia são interações poderosas que promovem saúde e felicidade. E o modelo de relações virtuais não empáticas está se reproduzindo nas relações humanas reais. A falta de empatia no mundo virtual afeta nossa capacidade de ser empático no mundo real.
Por fim, fica a pergunta: como podemos nos tornar mais empáticos e, por consequência, responsáveis nas redes sociais?
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