Por Miriam Diez Bosch
Transitar pela sociedade biotecnológica sem renunciar à “condição humana” não é fácil. O advogado e urbanista Albert Cortina, autor de várias pesquisas sobre pós-humanismo, acredita que estamos no momento “mais crucial da história humana”. E adverte: “está em jogo não o que faremos ou deixaremos de ser, mas o que seremos de agora em diante”.
Nestes tempos hipermodernos e diante da ideologia do trans-humanismo e sua firme intenção de construir uma sociedade pós-humana, emerge o paradigma do “humanismo avançado”, em um contexto de “responsabilidade coletiva”.
O trans-humanismo é um movimento que pretende transformar a condição humana mediante o uso da ciência e tecnologia (às vezes é representado como H+). Ele não só quer melhorar a mente, mas também superar condições que considera “desnecessárias”, como a morte, o sofrimento e o envelhecimento. O termo surgiu pela primeira vez em 1957, mas seu uso se popularizou nos anos 80.
Diante desta proposta de uma mudança revolucionária no projeto humano, Cortina, que é católico e vê a fundamentação do humanismo avançado baseado do humanismo cristão, diz que “estamos a ponto de tomar as rédeas de nossa evolução como seres vivos e isso vai exigir um compromisso ético universal”. Para isso, ele propõe que estejamos atentos a algumas questões:
Convergência de tecnologias emergentes: a proposta dessa convergência é desenvolver um sistema de valores que capacite as pessoas a viver de forma ética e responsável na nova sociedade biotecnológica do século XXI;
Revolução da inteligência: começamos a vislumbrar os primeiros sinais e efeitos dessa revolução, a 4.ª revolução industrial, em que as biotecnologias produzirão “mudanças radicais”, inclusive na própria natureza humana;
Tecnologias emergentes: o desenvolvimento e a convergência da inteligência artificial e das tecnologias emergentes (nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia da informação, tecnologia cognitiva, robótica, computação quântica etc) exercerão um impacto direto sofre os seres humanos, sobre a biosfera (esfera da vida biológica) e sobre a noosfera (esfera da mente planetária ou consciência universal);
Capacitação: é preciso nos capacitarmos para “agirmos com responsabilidade tecnológica” diante nesta nova etapa da evolução humana. Em breve, conviveremos em cidades inteligentes com humanos, mutantes, robôs autônomos e com personalidade eletrônica legalmente reconhecida. Por isso, devemos preparar as bases culturais, educativas, psicológicas, ambientais, sociais, políticas, éticas, espirituais neste cenário “inédito” em nossa civilização;
Humanismo avançado: para compreender esta mudança “disruptiva” e construir “urgentemente” uma alternativa, Cortina propõe um “humanismo avançado”, baseado em uma “ética universal integradora dos princípios e valores da humanidade”. Cortina crê que as tradições religiosas e espirituais têm algo a dizer e aposta na “esperança de que vamos fazer tudo dar certo, todos juntos e sabiamente”.
Albert Cortina é professor e pesquisador de ética aplicada ao urbanismo em várias universidades europeias, como a Universidade Politécnica da Catalunha. Também é consultor em inteligência ambiental, biomimética e habitat inteligente.
A preocupação de Cortina é que se promova o humanismo avançado a serviço das pessoas, a partir de uma cosmovisão que integre ciência, ética e espiritualidade. “Tudo é permitido, mas nem tudo nos convém”, sentencia Cortina, lembrando que ele crê no ser humano e diz que é um “humano-otimista”.
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