Um projeto de uma escola rural, em Palmas, no Tocantins, recebeu neste ano o prêmio de Melhor Edifício de Arquitetura Educacional do Mundo, da Building of the Year.
Os professores e a direção da escola sentiam a necessidade de proporcionar um ambiente com mais individualidade e privacidade para as crianças, que antes se dividiam em quartos com 20 beliches.
A escola da Fazenda Canuanã tem 780 alunos em regime de internato na zona rural de Formoso do Araguaia, a 320 quilômetros de Palmas (TO).
Para pensar um novo modelo de moradia, a fundação convidou o Instituto Gente Transforma, do designer Marcelo Rosenbaum.
A preocupação em transformar a escola em um lar fez com que a instituição, mantida pela Fundação Bradesco, ficasse conhecida mundialmente como Moradias Infantis, novo alojamento para os alunos.
Como
O projeto começou ouvindo as crianças para saber o que elas entendiam como necessário para transformar o dormitório em uma morada.
“Os pedidos eram simples. O que eles mais queriam era que o prédio fosse mais fresco”, conta o designer.
A região onde a escola está fica na faixa de transição entre o Cerrado, o Pantanal e a Floresta Amazônica, e a temperatura pode chegar a 38º C no verão.
Além de ouvir os alunos, Rosenbaum e os arquitetos do escritório Aleph Zero visitaram as casas das famílias para mapear elementos que pudessem causar identificação.
O projeto criou nova modulação para os quartos, que passaram a abrigar apenas seis crianças e foram divididos em dois pavilhões, feminino e masculino.
Em casa
A construção usou painéis de palha trançada, tijolos de solo-cimento, chão de cimento queimado e madeira.
“Cada criança tem seu próprio gavetão, um abajur, um espelho. Em uma escola com tantos alunos, que passam a maior parte do tempo de uniforme, é importante que tenham um momento em que possam enxergar e valorizar sua individualidade”, diz Rosenbaum.
Os quartos foram entregues no início de 2017 e, segundo Ricardo Figueiredo, diretor da escola, as mudanças foram sentidas rapidamente.
“Eles estão muito mais tranquilos, passaram a valorizar o silêncio, os quartos. Para muitas dessas crianças, é a primeira vez que têm um quarto, já que a maioria morava com os pais em casas de apenas um cômodo.”
Bruno Santos, de 18 anos, saiu da casa dos pais aos 7 para estudar na escola.
“Sou o caçula de sete irmãos, fui o menino que mais chorou na primeira semana de aula de tanta saudade da minha mãe”, lembra.
Agora, não quer mais deixar a escola, onde cursa o ensino técnico em Agronomia.
“Tenho aqui tudo o que meu pai não pode me dar. Sempre foi minha casa, mas melhorou muito no último ano. Antes, só podia dormir quando apagavam a luz. Hoje, os meninos que moram no meu quarto são minha família, a gente se respeita para cada um dormir e estudar na hora que quiser.”
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