Há coisa mais libertadora que aceitarmos-nos da forma como somos? Aceitar com leveza as mudanças que o tempo marca no nosso corpo? As experiências que nos ensinam, através do amor ou da dor?
Há coisa mais gentil para conosco mesmos se nos presentearmos com a bondade do nosso próprio pensamento e uma sensação leve e gostosa de sermos que somos? Reconhecer as coisas boas e ruins que aprendemos e vivemos? E ensinar, àqueles que chegaram depois de nós para usufruir desse mundo o mistério e a graça que é o viver?
O viver pode ser pura poesia brincalhona. Como nos ensina a Deotina Pereira Gil (ou Dona Tina). Com a graça dos seus 94 anos, a mineira que ganhou de aniversário um ensaio fotográfico, deleitou-se com seus melhores figurinos. Mostra-nos como a pele cravada pelos anos tem a sua beleza. Surpresa com o resultado da brincadeira exclama: “Até que fiquei bonita!”. E quem ao vê-la nessa produção consegue não sorrir? Ela, viúva já há 40 anos – praticamente o que eu tenho de vida – contornou a amargura das perdas e seguiu escolhendo viver. A neta que a acompanharia no ensaio fotográfico, crente de que a avó iria apenas com uma roupa surpreendeu-se com o volume de alternativas, cores, tecidos e acessórios que Dona Tina escolhera para se enfeitar diante das câmeras.
Acredito que todas as fases da vida tem a sua identidade. Nos ensinam cada uma com sua peculiaridade. Mas nada vemos se não abrirmos as janelas das nossas almas. Afinal, dentro de todos nós moram um bebê, uma criança, um jovem e um adulto… “Até que fiquei bonita” ela disse… E não ficou linda? Que bom seria se todos fossemos capazes de nos ver através das lentes dos olhos dos outros… Somos sempre tão lindos!