Quando um bebê ou uma criança pequena choram, é comum ouvir que estão “fazendo manha”, “manipulando” os pais, “fazendo birra”. Que devem ser ignorados, distraídos, reprimidos. O choro é também, por outro lado, um fator que desestrutura os adultos em volta. Cria-se uma ansiedade em satisfazer a criança ou apenas fazê-la parar de chorar que leva mães, pais e cuidadores para o outro extremo.
Para Daniel Becker, “é claro que não se deve reprimir o choro nem castigar uma criança porque está chorando. Isso seria um absurdo. Especialmente no caso de uma criança pequena, seria uma forma abusiva de se relacionar com ela, uma forma agressiva”.
O choro, explica ele, faz parte de um conjunto de expressões da criança, que é muito importante e deve ser respeitado. A criança está tentando comunicar uma necessidade ao chorar. Ou um sentimento, uma emoção. Becker ressalta que nem sempre se trata de algo concreto ou muito objetivo, como fralda suja, fome ou sono.
A criança pode estar insegura, triste, frustrada, zangada, confusa. São muitas as possibilidades emocionais, de sentimentos, sensações que podem levar uma criança às lágrimas.
É preciso, portanto, que o adulto “traduza” essa comunicação e seja capaz de compreender que tipo de necessidade não-satisfeita a criança expressa ao chorar. “A gente deve prestar atenção no nosso filho, estar junto dele, conviver com ele e, através dessa intimidade e desse convívio e desse olhar cuidadoso e atento tentar interpretar esse choro e prover as necessidades que ele está expressando ali”, explica Becker.
O choro precisa ser acolhido pelo adulto. Isso significa reconhecer e dizer à criança que ela pode chorar, que é uma expressão legítima e autorizada. E, ao mesmo tempo, nomear o sentimento ou a causa do choro, para que os pequenos possam, aos poucos, tomar consciência do que sentem, do que os aflige e, assim, lidar com essas sensações e frustrações a partir de um ponto de vista mais autônomo. Nomear é organizar um pouco o caos emocional, especialmente em momentos de crise.
“Se ela [a criança], por exemplo, não vai ganhar um brinquedo e está chorando por isso, a gente pode dizer que entende que ela está frustrada, que é chato mesmo, que ela está zangada, triste, que a mamãe entende, que o papai está ouvindo, está entendendo isso… Repetir essas palavras é muito importante, porque ela vai entender o que ela está sentindo, vai adquirir consciência das suas próprias emoções. Isso é o primeiro passo para a inteligência emocional, que é tão importante em nossa vida”, explica a Becker.
No entanto, acolher o choro não é sempre dar aquilo que a criança demanda ou pede. Por vezes, isso é impossível. Pense, por exemplo, em uma criança que chora porque quer comer mais doces ou porque não quer tomar banho ou porque quer brincar com a tomada. Acolher é entender, interpretar e fazer aquilo que é possível para a criança, de acordo com as nossas possibilidades.
Daniel conta que, por vezes, os pais ficam ansiosos em evitar o choro, evitar a frustração da criança e se excedem, fazendo mais do que podem e até do que devem. A criança, explica ele, aprende a lidar com o choro e com a frustração vivendo essas emoções.
Então chorar também faz parte da necessidade de crescimento de uma criança. Ela precisa chorar e se frustrar pra encarar essas frustrações e poder resolvê-las também por si própria, desenvolvendo a capacidade de autonomia de lidar com pequenas infelicidades e frustrações da vida.
“A gente tem que saber lidar com o choro, aprender a lidar com o choro, já que ele faz parte da vida da criança como uma linguagem”, explica Becker. Não pode se apavorar e querer bloquear o choro com distração, chupeta, ou oferecendo tudo o que estiver ao alcance para evitar que a criança chore.
“É preciso lidar com essa sensação de que a gente tem que estar sempre com a criança satisfeita, e que ela nunca pode estar insatisfeita, frustrada, triste, chorando. Isso não existe, porque ela é um ser humano, ela vai ter momentos de insatisfação, frustração, e, aliás, esses momentos são fundamentais para a sua formação e seu desenvolvimento”, avalia o pediatra.
Sobre a urgência de atender a criança, Becker diz: “não preciso sair correndo do banho, molhado, para atender um pedido, meu filho também consegue esperar”. Pressupor que os pequenos não conseguem esperar ou lidar com a frustração também é um desrespeito, defende o pediatra, pois diminuímos, na prática, as capacidades da criança e a impedimos de aprender com as pequenas esperas, as pequenas frustrações, as pequenas contrariedades.
“A criança de meses e a criança até de 2,5 anos vai ter dificuldade em colocar a sua frustração em palavras. O córtex pré-frontal que é a área mais racional e de controle, está em início de desenvolvimento nessa idade e a criança não tem essa capacidade de expressar verbalmente as necessidades”.
É por isso que o papel do adulto, nesses momentos de choro e mesmo nas crises de raiva e frustração, quando a criança de descontrola, é acolher o choro, nomear os sentimentos envolvidos e evitar que os pequenos se machuquem ou machuquem os outros.
Impedir, com delicadeza e gestos firmes, que a criança bata ou arremesse objetos, por exemplo, é essencial. O adulto pode falar coisas como “a gente não bate”, “tudo bem sentir raiva, mas não posso deixar que você machuque alguém”, “não podemos bater no papai” e mesmo expressar emoções diante da agressividade dos filhos: “a mamãe entende que você esteja brava, e tudo bem ficar brava, mas a mamãe fica zangada quando você me bate”.
“Quando o bebê é pequeno, o choro é praticamente a única linguagem que ele tem. E o choro, como forma expressiva, deve ser usado, ele faz parte do desenvolvimento normal do bebê”.
Becker lembra que, quando nasce, o bebê deixa um ambiente uniforme, homogêneo, de saciedade permanente, temperatura agradável, silêncio, pouca variação – o “paraíso” – para outro com hiper estímulos, fome, frio, sede, barulho, caos. É normal que chore muito e tenha muitas demandas. Esses estímulos se introjetam como impressões no bebê, que precisa do choro para reciclar esses estímulo e exprimi-los. Chorar de duas a três horas por dia é normal e saudável.
“Depois, ele vai encontrando outras formas de se expressar, de sorrir, de brincar, de interagir e esse choro vai diminuindo, naturalmente, mas permanece como uma expressão super importante da normalidade do bebê, dos seus estados emocionais mais negativos, de frustração, de fome, de sono, e isso tudo vai se resolvendo à medida em que ele vai aprendendo a expressão verbal”.
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