Por Sil Guidorizzi
Há coisas que não podem ser prolongadas, estendidas a troco de nada. Porque apesar da vida me cobrar muita coisa, não posso também aceitar esmolas, ou ficar ao relento do lado de fora passando frio ou fome, por conta de quem não quer me esquentar o coração.
Também não vou ficar aqui me culpando por tudo, ficar buscando assunto com quem não quer falar, escutar, transitar pelo meu viver, sem que eu implore.
Certas coisas, eu observei que podem se modificar só com o pensamento e com atitudes que tragam mais força para enfrentar a batalha dos dias.
Mesmo que eu me sinta em frangalhos, mesmo que eu esteja cheia de hematomas internos, mesmo que eu desarrume e arrume minha vida diversas vezes.
Eu tenho amor-próprio, eu já senti na pele alguns tipos de rejeições que não foram boas para mim. Mas eu soube dar a volta por cima em muitas coisas, porque eu sei que hoje eu posso estar em uma situação e amanhã em outra.
Na verdade, Deus possui o tempo Dele e sabe a hora exata de colocar as coisas no lugar mesmo que eu precise passar por um verdadeiro vendaval interno e externo para que eu perceba que nem tudo é como eu quero e nem sempre as coisas ficarão estáticas ou sem resposta.
Eu não o engano, porque Ele sabe de todos os meus passos. Ele está em meus pensamentos e na forma como sinto a vida.
Sim, eu me cansei de algumas coisas, cansei de olhares tortos de sentimentos frios; de tudo que não serve e está gasto. Cansei de tentar tocar aquilo que me repele e não me aceita.
Aí eu vi que preciso agradar mais a mim e cuidar da própria vida sem que haja tanta interferência, sem que haja tanto olhar de reprovação à minha volta. Volta e meia eu acordo, desperto, saio daquele estado de inércia mental, visualizo um hoje sem tantos espinhos, liberto daquilo que incomoda.
Aí, mais uma vez eu me busco, identifico-me e penso nas coisas que eu preciso. Preciso de mim e de um canto para estar em paz com a consciência longe de coisas ruins, longe de tudo que não me faz bem.
Aí eu vejo que o envelhecer não me assusta. O que me assusta é passar por essa vida sem ter feito nada de bom, sem ter amado o necessário, sem ter dias de olhar aberto e cheio de sonhos.
Por isso que não abro mão de algumas coisas. Poucas, mas que são essenciais para que eu dê sentido à vida.
Vida, essa, que muitas vezes passou por muitos altos e baixos, passou por tanta coisa que daria um livro sem final; porque, afinal, ainda estou aqui, ainda estou desejando que tudo dê certo e que eu mais uma vez, eu me sustente naquilo que preciso. Por isso eu dedico tudo ao tempo. Ao meu modo de ter aceito as coisas e ter-me religado com outras que fizeram tanta falta.
Porque no fundo eu sou aquele amontoado de coisas que deixei ir, que deixei ficar, que coloquei em meu colo, e que eu tive que me despedir, sem tempo de pensar no que seria no dia seguinte.
Certas coisas eu gosto de relembrar, de amar, de sentir perto. Porque são coisas que me despertam e me tiram daquela sensação de vazio. Trazem o calor da vida de uma forma peculiar, de uma forma que só eu entendo e sinto como como essencial, como conquista por tudo que precisei atravessar para ter um pouco mais de descanso e alívio.