Por Elenice Bastos
Há quem prefira os tempos atuais e modernos. Contudo, para aqueles um pouco mais vividos, é quase impossível vez ou outra, não comparar as mudanças de geração para geração. Todos fazemos isso. É claro, há ganhos e perdas com o passar dos anos. Alguns não conseguem esquecer das mágoas e sofrimentos vividos no passado…eu prefiro me lembrar das coisas boas, não de forma nostálgica querendo viver tudo outra vez, mas de um jeito gostoso e prazeroso. Se hoje, existe algum arrependimento, talvez, seja por ter deixado de viver uma ou outra situação por receio ou medo das consequências.
Nos meus tempos de menina, ficávamos até mais tarde nas ruas. Não era costume, nas casas, grades, alarmes, cercas elétricas…etc. Podíamos brincar nas ruas com mais tranquilidade. Comunicação virtual era coisa do outro mundo…sequer ouvíamos falar. Brincávamos de queimada, pingue-pongue, pique esconde, batatinha frita…um, dois, três, amarelinha…e por aí vai…bons tempos.
Academia era coisa rara, também. Dos dez aos catorze anos, morei no quarto andar de um edifício onde não havia elevador. Mas eu pouco me importava com isso, subia e descia os quatro lances de escadas levando nos braços uma bicicleta monark, que dividia com mais dois irmãos. Como adorava pedalar…nessa hora, o mundo era todo meu. E, dessa forma, mantinha a silhueta em dia.
Em noites quentes de verão, muitos saíam de seus apartamentos para papear uns com os outros embaixo dos blocos. Costumávamos saber o nome de quase todos os vizinhos.
À noite, o sono vinha naturalmente, sem ajuda de ansiolíticos, calmantes ou qualquer outra droga. Difícil era acordar às seis da manhã para o colégio. Porém, querendo ou não, o pontualíssimo sino da igreja ao lado, jamais errava e me fazia pular da cama com suas seis infalíveis e pontuais badaladas matinais. Não tinha muito dessa coisa de bullying no colégio ou, talvez, até houvesse, porém, de forma muito mais leve e disfarçada, sem violência, sem perseguição. Os professores eram respeitados e admirados. Assim, como eram também, nossos pais. Bastava um olhar atravessado de nossos pais para entendermos que estávamos sendo um tanto quanto inconvenientes.
As dores de amor eram curadas naturalmente. Alguns dias sem comer, (a dieta do amor) jogada na cama ao som dos Bee Gees, Carpenters, Beatles, Bread e pronto; aos poucos, tudo ia voltando ao normal e logo estava pronta para mais uma paixão, acreditando que a próxima seria para todo o sempre…Mal sabia eu aos treze, catorze anos de idade, o significado de um amor verdadeiro…A prática do “ficar”, como hoje, se diz, existia. Sim, existia mas, apenas, entre as meninas mais modernas, mais descoladas. Para as mais “conservadoras”, o primeiro beijo era garantia de compromisso e se o rapaz conhecesse os pais da namorada, aí, pronto, o enxoval para o casamento começava a ser preparado…
Havia tantos sonhos, tantas incertezas. Alguns sonhos se realizaram, talvez, não exatamente da maneira como foram idealizados. Ou, as expectativas eram por demais alimentadas e pertenciam a um mundo de faz de conta, e não correspondiam aos fatos de uma realidade nada cor de rosa…
Após, o casamento, e já com os herdeiros nascidos, os fins de semana costumavam acontecer na casa dos pais, para curtição e adoração dos netinhos tão lindos e graciosos. Hoje, os bichinhos de estimação tomaram o lugar dos netinhos humanos, eu, por exemplo, sou avó de seis…Tudo bem, amo bichinhos, mas acho que ser avó de netinhos humanos de verdade, deve ser algo extremamente delicioso.
Pois é, a vida é bela. São esses pedacinhos de lembranças que ajudam a compor o grande quebra-cabeças de nossas vidas. Sei que para alguns, a vida se apresentou de um jeito mais “punk”, e as recordações não são lá, tão bem vindas. Mas eu acredito que para tudo há um porquê, e que um dia, tudo será esclarecido e explicado, para cada um de nós. Vivemos em um mundo, onde existem regras, existem leis, para que tudo possa funcionar com harmonia. Tudo a nossa volta foi pensado antes de existir, não somos obra do acaso.
Somos parte da criação de uma “ Inteligência Divina”, cumprindo cada um o seu papel, a sua missão, nessa vida tão cheia de mistérios e maravilhas. E, de geração em geração, seguimos evoluindo, nos adaptando aos novos tempos…Muitas coisas ficam pelo caminho, são esquecidas, apagadas. O que nunca se perde é nossa evolução espiritual, o aprendizado vivenciado pela alma é cumulativo, não se perde nunca e passa de geração para geração e de vidas para vidas.
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