Por Isaías Costa
Estamos vivendo, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro, tempos de uma INTOLERÂNCIA que beira o absurdo. Tem momentos que chego a duvidar que os seres humanos sejam de fato racionais e tenham esta como grande característica que diferencie dos outros animais.
Observo a forma harmoniosa que os animais vivem, sem os famosos três venenos que tão bem são trabalhados no Budismo: ganância, raiva e ignorância. E nessa hora, se eles pudessem entender a nossa fala, diria o seguinte: “Perdoem a nossa ganância, raiva e ignorância sem limites…”.
Essa é uma parte da chamada oração do arrependimento, que aprendi com a querida Monja Coen. Só ela, sendo colocada na prática da vida diária, já faria maravilhas por todos nós. Essa oração completa diz: “Todo carma prejudicial alguma vez cometido por mim desde tempos imemoriáveis devido os três venenos: ganância, raiva e ignorância sem limites. Nascidos da minha boca, corpo e mente. De tudo eu me arrependo…”.
Quero com esse texto levar você a refletir junto comigo sobre a possibilidade de vencer principalmente o veneno terrível da RAIVA, a partir das lindas palavras do mestre Osho, extraídas do livro “O barco vazio”.
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“Um dos maiores mestres zen Lin Chi, costumava dizer: quando eu era jovem, adorava andar de barco. Eu tinha um barquinho e remava sozinho num lago. Eu ficava ali durante horas. Uma vez, eu estava no meu barco, de olhos fechados, meditando, numa noite esplêndida. Então outro barco veio flutuando, trazido pela corrente, e bateu no meu. Meus olhos estavam fechados então pensei: alguém bateu o barco no meu. Enchi-me de raiva.
Abri os olhos e estava pronto a vociferar algo para o homem, quando percebi que o barco estava vazio!
Então não havia onde descarregar a minha raiva. Em quem eu iria extravasá-la? O barco estava vazio, à deriva no lago e tinha colidido com o meu. Então não havia nada a fazer. Não havia possibilidades de projetar a raiva num barco vazio. Eu fechei os olhos. A raiva estava ali. Mas não sabia como extravasar. Eu fechei os olhos simplesmente e flutuei de volta com a raiva. E esse barco vazio tornou-se a minha descoberta. Eu atingi um ponto dentro de mim naquela noite silenciosa. E esse barco vazio foi meu mestre. E, se agora alguém vem me insultar, eu rio e digo: esse barco também está vazio.
Fecho os olhos e mergulho dentro de mim”.
Osho
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Essa estorinha eu denominei de “Metáfora do barco vazio”. Ela pode nos ajudar imensamente a lidar com as pessoas intolerantes. Essa postura é semelhante à de Jesus Cristo frente aos seus carrascos quando ele estava na cruz: “Pai! Perdoa-os, porque eles não sabem o que fazem…”. Jesus estava se referindo à esses três venenos que moviam os soldados e teve por eles misericórdia. Não é fácil! Na realidade, é bem difícil aprender isso, mas é possível. Se não fosse possível, nem perderia tempo escrevendo esse texto.
Esse barco vazio pode ser interpretado de várias maneiras, colocarei aqui apenas duas.
Ele representa NÓS MESMOS. Lin Chi se encheu de raiva quando o outro barco colidiu com o dele. Nessa hora, percebeu que ele estava vazio e não tinha ninguém para descontá-la! A raiva parte de nós, NUNCA vem de fora. Não é o outro que traz a sua raiva e deposita em mim. Quem pensa dessa maneira está movido pela ignorância. Ela já existe em nós, e quando se manifesta é porque encontrou uma pequena chama para acionar esse barril de pólvora interno…
A segunda interpretação é mais profunda, e aproveito até para tocar no assunto da POLÍTICA atual. A morte da vereadora Marielle Franco no Rio de Janeiro foi, sem sombra de dúvidas, uma das maiores calamidades públicas ocorridas no ano de 2018. Pessoas que tenham a audácia de dizer qualquer coisa tentando justificar que ela “fez por merecer…” ou qualquer absurdo dessa natureza, são dignas de misericórdia, não consigo encontrar outra palavra. Inclusive retirei do meu vocabulário há um bom tempo a palavra pena. Você sabia que só sente pena de alguém as pessoas que têm ou complexo de inferioridade ou complexo de superioridade? Se você for uma pessoa humilde, sabe que ninguém é nem superior nem inferior a você, então esse sentimento deixa de existir.
Li coisas escandalizantes nos dias que se seguiram à sua morte em 14/03/18 e tenho alimentado essa misericórdia das pessoas que proferiram tantas asneiras contra essa mulher incrível, que tinha um coração repleto de amor. Essas pessoas são barcos vazios, que ainda não se trabalharam interiormente. Elas precisam urgentemente aprender essa sabedoria simples do mestre Lin Chi: “fechar os olhos e mergulhar dentro de si mesmas…”.
Escrevo semanalmente nutrindo essa esperança de que, mesmo de forma singela, minhas palavras possam tocar o coração dos leitores, inspirando a se tornarem mais conscientes e libertos desses três venenos. Libertar-se deles é o caminho para atingir a sabedoria na vida. Eu estou longe de atingir essa sabedoria dos grandes mestres, mas pelo menos tento me inspirar um pouco neles e compartilhar essa maravilha que são seus ensinamentos com vocês que me leem!
Que você se utilize mais dessa metáfora do barco vazio para mergulhar dentro de si mesmo (autoconhecimento) e para alimentar virtudes nobres como a misericórdia, a paciência, a tolerância, a humildade etc…
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