Reflexões

A caleidoscópica Clarice Lispector

Por Isaias Costa

Estou publicando esse texto exatamente no dia em que se faz a memória do aniversário da brilhante escritora Clarice Lispector (10/12). Eu sou apaixonado pelos seus escritos e sempre que leio algo se sua autoria minha mente viaja para mundos fantásticos. Esse texto é uma pequena homenagem a essa mulher que tanto me inspira.

Estava lendo uma de suas frases e fiquei refletindo por bastante tempo. Confira!

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“Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro.”

Clarice Lispector

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Muitas pessoas não entendem quando ela fala sobre ser caleidoscópica, talvez porque não conheçam bem os caleidoscópios.

Eles são instrumentos bem pequenos no qual você olha através de um orifício e dentro dele se formam diversas imagens muito bonitas que vão mudando à medida que você muda a posição ou inclinação dele.

Ou seja, os caleidoscópios são instrumentos que se mostram com diversas facetas, mas nunca deixam de ser eles mesmos. Essa é a principal reflexão. A Clarice se compara com os caleidoscópios porque ela se apresenta de “n” formas diferentes sem jamais deixar de ser ela mesma!

Essas mutações faiscantes lembram as imagens hipnotizantes dos caleidoscópios.

Lendo essas palavras também lembrei de uma pequeno texto do querido Rubem Alves do seu livro intitulado “Ostra feliz não faz pérola”, no qual ele também fala dos caleidoscópios.

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“O caleidoscópio nasceu na Inglaterra, nos primeiros anos do século passado. Seu inventor foi Sir David Brewster. Deve ter sido num momento de vagabundagem que a ideia do caleidoscópio apareceu na cabeça de Sir David Brewster. Como era homem culto e conhecia o grego antigo, uniu as palavras gregas kalos (= belo), eidos (= imagem) e scopéo (= vejo). Caleidoscópio quer dizer “vejo belas imagens”. As belas imagens do caleidoscópio se fazem com caquinhos de vidro, clipes, tachinhas, pedrinhas. O mesmo acontece com os artistas. Eles têm a capacidade de produzir o belo com o insignificante. Esse livro está cheio de caquinhos que podem, eventualmente, produzir belas imagens.”

Rubem Alves

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Tanto o Rubem quanto a Clarice foram geniais em suas escritas e conseguiam a partir das coisas mais simples ou insignificantes escrever produzindo belíssimas imagens.

Infelizmente, parece que a nossa sociedade tem um fascínio pelo convencional, pelo que não gera espanto, pelo imutável. Quando surge alguém que muda muito ela já é tachada de inúmeros adjetivos como: inconstante, bipolar, camaleão etc. etc.

No entanto, é no mínimo estranho pensar que seja errado mudar constantemente, porque nós somos uma eterna mudança. Nada no nosso corpo ou nas nossas emoções e sentimentos permanece imutável. Inclusive eu tenho a impressão de que as pessoas que mudam com bastante frequência são as mais inteligentes, saudáveis e felizes!

Esse discurso bate de frente com quase tudo que nos é ensinado desde a mais tenra infância. Somos ensinados a buscar a estabilidade financeira, a casarmos e ficarmos com a mesma pessoa até que a morte nos separe. Aprendemos que se temos valores adquiridos pela família ou pela religião eles devem permanecer conosco a vida inteira. Se mudo de religião sou visto com maus olhos. Se me afasto de determinados parentes sou visto como uma espécie de “traidor”. Se mudo a forma de me vestir ou se quero encher o corpo de tatuagens tem sempre alguém para fazer críticas e mais criticas. Você já parou pra pensar nessas coisas? Até que ponto buscar essas mudanças é algo positivo ou negativo?

O mais interessante é que somos realmente como caleidoscópios. Por mais que mudemos por dentro ou por fora, a nossa essência jamais mudará. Ela é o que há de mais belo e puro no nosso interior.

Expandindo essas reflexões não tem como não lembrar do maluco beleza Raul Seixas. Ele era um cara que na sua maluquice sabia viver intensamente. Uma de suas mais belas frases diz: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

É maravilhoso viver essas metamorfoses. Essa metáfora é ligada às borboletas, que passam pela metamorfose de lagarta rastejante até borboletas coloridas que voam livres pelo céu. Nós, ao contrário das borboletas, passamos por diversas metamorfoses sem jamais deixarmos de ser nós mesmos!

Enquanto escrevia esse texto pensei no quanto esses três autores citados tem uma ligação em termos de pensamento. Todos eles escreveram sobre metamorfoses e borboletas. Não é incrível isso? Eles escreveram sobre isso porque amavam ser caleidoscópios.

Que essa breve reflexão também lhe incentive a ser caleidoscópico também. Nada é mais bonito na vida do que não ter medo das mudanças. Quando as encaramos de mente e coração abertos a nossa vida se torna espetacular…

Um viva à querida Clarice Lispector. Essa linda borboleta que nos fascina através do seu belíssimo legado que são seus livros e sua história de vida…

A Grande Arte De Ser Feliz

Para todos aqueles que desejam pintar, esculpir, desenhar, escrever o seu próprio caminho para a felicidade.

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