Por site Só notícia boa
Quando é pra ajudar não existe religião, nem preconceito. Evangélicos estão ajudando a reconstruir o terreiro de candomblé de Conceição d’Lissá, que fica em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
O espaço, que já tem 17 anos, foi destruído em um incêndio provocado por intolerância religiosa em 2014. ]
Na época presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do estado (Conic-Rio), Lusmarina Campos, organizou a campanha de arrecadação, concluída no fim do ano passado, para a reconstrução do templo.
O grupo arrecadou mais de R$ 12 mil reais – a maior parte de fiéis da Igreja Cristã de Ipanema – e entregou dinheiro no ano passado, em uma cerimônia inter-religiosa no terreiro de Conceição.
A pastora Lusmarina Campos, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, foi ao local acompanhada de três voluntários para, pessoalmente, ajudar na remoção de entulhos – tijolos e pedaços de madeira que faziam parte do segundo andar do terreiro.
“Logo que a gente ouviu sobre a destruição do terreiro, eu pensei: ‘Se em nome de Cristo eles destroem, em nome de Cristo nós vamos reconstruir’. É extremamente importante dar um testemunho positivo da nossa fé, porque o Cristo que está sendo utilizado para destruir um terreiro está sendo completamente mal interpretado”, disse Lusmarina à BBC.
As obras no terreiro da mãe de santo Conceição começaram pela cozinha, que estava funcionando no quintal desde que a estrutura interna da casa foi danificada pelo incêndio.
O local é considerado “o coração do barracão”, uma vez em que lá são produzidas as oferendas – parte importante da tradição candomblecista.
“Quando eles vêm dar essa ajuda pra gente, é justamente [uma forma de] reconhecer que, primeiro, a gente sofre o ataque. Depois, é reconhecer que a gente tem o direito de existir e professar o nosso sagrado”, comenta Conceição.
“Eles não vieram aqui pra me mudar, evangelizar ou dizer que o que eu faço está feio ou é do diabo. Vieram para dizer: ‘Faça aquilo que você crê. Eu vou te ajudar’.”
Intolerância religiosa
Alguns dos que participaram da reconstrução tiveram de enfrentar críticas e ameaças, principalmente na internet e nas redes sociais.
Lusmarina conta que um youtuber evangélico gravou um vídeo em que incentiva outras pessoas a agredirem. “Ele diz: ‘Pastora vadia, vagabunda…Tem que tomar tapa na cara’, de maneira muito agressiva e violenta.”
Aquele foi o oitavo ataque ao local de culto da mãe de santo.
Antes, tiros haviam sido disparados contra o templo e a casa de Conceição. Três carros que pertenciam a candomblecistas de seu grupo foram queimados.
“Não há roubo de televisão, rádio, uma porção de coisas que poderiam usar para fazer dinheiro. Não levam nada, só destroem”, conta a pastora.
No ano passado, 71,5% dos casos de intolerância religiosa registrados no Rio de Janeiro foram contra grupos de matriz africana, segundo a Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos.
Crimes de ódio contra os adeptos de religiões como o candomblé e a umbanda também ocorrem em outras partes do país, que possui cerca de 600 mil devotos de crenças de origem africana, segundo o Censo de 2010.
A polícia até hoje não identificou os responsáveis pelos crimes.
Divisor de águas
A boa ação dos evangélicos foi elogiada pelo babalaô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.
“Esse ato é um divisor de águas na luta contra a intolerância religiosa no país”
Com informações da BBC