Permita-se, a cada nova aurora, editar uma versão melhorada de si mesmo. A vida é formada por duas linhas, uma horizontal e a outra vertical, desenhando uma cruz, individualizada para cada um de nós.
A linha horizontal possui começo, meio e fim. Essa linha acompanha os processos vitais do nascimento, crescimento, reprodução, envelhecimento e morte. Nela, desfrutamos os prazeres e os dissabores da vida. Mesmo que não se queira viver, a linha horizontal continuará correndo mecanicamente. Simplesmente é preciso viver! Nesta linha, o trajeto é sempre adiante. Não é possível voltar ao passado (apenas em recordações), nem avançar para o futuro (apenas em suposições).
Na linha vertical, escalonam-se os níveis de nosso ser. Nessa linha, ativamos a consciência, entramos em contato com o divino que habita em cada um de nós. Nela, temos liberdade de movimento. Mas a movimentação não ocorre mecanicamente, como na linha horizontal: acontece por meio da auto-observação, do autoentendimento, do conhecer a si mesmo, do adentrar em seu próprio íntimo, do decifrar a sua fórmula matemática, do ser pleno neste exato momento.
Esta linha registra o nosso inventário psicológico, por meio do qual podemos identificar aspectos nos quais devemos melhorar (nossos erros recorrentes, vícios e defeitos psicológicos); aqueles que devemos potencializar (nossas qualidades e pontos luminosos) e muitas características a serem conquistadas (novas faculdades e virtudes). Vivenciar esta linha, de fato, exige dedicação integral.
É necessário, diariamente, dialogar com nosso próprio ser, dissecar o mim mesmo e para isso temos que aceitar e encarar todos os elementos espinhosos e indesejáveis que carregamos em nosso interior: a inveja, a preguiça, a cobiça, a insegurança, a ansiedade, o orgulho, a vaidade excessiva, o maldizer, a fofoca, o ciúme descontrolado, a luxúria, os julgamentos, os preconceitos, dentre outros. Se não mudarmos internamente, as circunstâncias externas também não mudarão.
O filósofo e historiador David Hume sabiamente disse: a beleza não é uma qualidade inerente às coisas. Ela existe apenas na mente de quem as contempla.
Trabalhando contínua e progressivamente a nossa linha vertical, podemos tornar as experiências na linha horizontal mais leves, sem nos identificar tanto com tudo aquilo que trás peso a nossa vida e torna a jornada tão árdua.
Cada um de nós carrega as causas de seus sofrimentos particulares dentro de si e, enquanto essas causas não forem compreendidas e enfrentadas, os sofrimentos tampouco se dissolverão; todo efeito tem sua causa, toda causa reflete um efeito. Não podemos permitir que os sofrimentos nos impeçam de viver em plenitude o momento presente.
Lembrei-me da seguinte colocação do poeta Thomas Hardy: a felicidade não depende do que nos falta, mas sim do bom uso do que temos.
É necessário treinar a mente e o olhar para valorizar aquilo que temos e as pessoas que estão dispostas a nos acompanhar e acolher, planejando como alcançar novas conquistas.
Decifre-se, reescreva-se, reinvente-se, esforce-se incansavelmente para elevar o seu nível de ser! Permita-se, a cada nova aurora, editar uma versão melhorada de si mesmo.