Uma amiga minha tem um filho de 6 anos e, dentro da agenda de atividades extracurriculares da escola, havia aula de balé. A mãe perguntou se o menino estava com vontade de dançar. Ele disse que sim. Neste final de semana, foi a apresentação da turma e, no meio de um mundaréu de garotas, o pequeno rapaz era o único representante do sexo masculino.
A coragem da minha amiga me inspirou a escrever. Fiquei pensando na encheção de saco que ela deve ter ouvido de outras mães de garotos – e principalmente dos pais. Do quanto o filho dela precisou ser bravo para chegar à primeira aula e ouvir comentários preconceituosos das colegas. “Isso é coisa só de meninas”, diziam. Imagino a sensibilidade da professora ao mostrar o vídeo de outros bailarinos homens para convencê-las de que todos podem dançar.
Sem barreiras
Dois ingredientes fundamentais para uma criança ter coragem de transpor a barreira do preconceito são a confiança e o amor dos pais. Eu parabenizei muito a minha amiga pela atitude carregada de afeto.
Gente, o balé brasileiro está mudando! O machismo e a homofobia são confrontados diretamente e na nossa cara. Na apresentação, as meninas estavam de tutu e blusa do Super-Homem, quebrando o senso comum de que essa dança cria mulheres doces e frágeis. O filho da minha amiga também estava de super-herói, com direito a capa e um largo sorriso no rosto.
A mãe me disse que ele teria aula hoje e já havia pego o material para colocar na mochila – “sapatilha preta, cor de homem”, nas palavras dele. A gente luta todo dia, porque todo dia tem uma barreira a ser quebrada. Uma batalha por vez.
Ela também me falou que, depois da apresentação, muitos garotos ficaram com vontade de fazer balé. Por mais mães e pais corajosos, como os desse pequeno Baryshnikov.
E você? Qual barreira do preconceito você quebrou hoje?