Médico no Piauí comove ao cantar para paciente horas antes dela morrer de Covid

O médico Matheus Rocha, 24 anos, tem comovido amigos e até gente desconhecida após cantar para uma paciente durante atendimento no Hospital Regional João Pacheco Cavalcante, em Corrente, no interior do Piauí. Mesmo sem saber, ele participou do momentos finais da idosa que faleceu na madrugada deste sábado (12). Recém-formado, ele disse ao Cidadeverde.com que a senhora estava internada há alguns dias em tratamento contra a Covid-19 e diz que cantou para aliviar a dor, enquanto a equipe médica fazia uma manobra para evitar a intubação.

O vídeo foi gravado por volta das 15h, desta sexta (11), pela equipe que acompanhava o médico que é natural de Corrente e teve a formatura antecipada devido a necessidade de médicos em decorrência da pandemia. A idosa faleceu por volta das 3h de hoje.

Assista ao vídeo:

Para Matheus, cantar não é algo novo e faz parte do dia a dia do médico desde quando ele era acadêmico de Medicina.

“Cantar sempre foi algo natural. Eu costumo andar cantarolando pelos corredores do hospital. Durante a graduação, cantei por todos os ciclos que passei: obstetrícia, saúde pública, cirúrgica. Essa paciente estava com a saturação baixa e estávamos tentando alternativas antes da intubação. Para se acalmar, resolvi cantar! perguntei que música gostaria de ouvir e comecei a cantar. A fisioterapeuta viu e começou a gravar. Eu imagino a comoção porque não é muito comum, pois somos técnicos, trabalhamos muito com a matemática da profissão. Cantar alivia o ambiente, melhora o trabalho em equipe e conseguimos interagir melhor com o paciente”, contou o médico.

Além de Aleluia, o médico cantou outras músicas escolhidas pela paciente. “A reação dela foi a coisa mais linda. Ela se emocionou, quis chorar e a gente até estimulou ela chorar para aliviar o sentimento. Foram os momentos finais dela”, lamenta Rocha.

Após o falecimento da paciente, mesmo fora do plantão, o médico foi ao hospital para dar apoio à equipe.

“Acabei voltando para falar com a equipe de fisioterapeuta, enfermagem, pois a gente estava junto. Fui lá para apoiarmos uns aos outros”, disse o médico.

Médico faz desabafo

Ao Cidadeverde.com, Matheus Rocha fez um desabafo sobre a ocupação de leitos Covid. Na cidade, por exemplo, não há UTIs para o tratamento da doença e o hospital mais estruturado fica a cerca de 240 km da cidade. O médico diz que a situação na cidade é dramática.

“A gente tem muitas mortes pela dificuldade de leitos de UTI. O nosso serviço não é UTI e ficamos esperando quatro, cinco ou seis dias epara o paciente ser regulado. Com o sistema lotado, a gente não consegue vagas. Intubar e manter os pacientes aqui é dramático porque não temos o material humano ideal, nem a estrutura física para isso. Esses últimos dias têm sido muito dramáticos. A gente fica de mãos atadas. Existem até outras terapêuticas que poderíamos usar, mas não nos são acessíveis até mesmo pela questão da distância e a gente não conseguir fazer o transporte desses pacientes”, desabafa o médico Matheus Rocha.



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